segunda-feira, 29 de junho de 2009

Alvarinho Quinta dos Loridos 2007

Sendo que vinho é vinho e pronto, é vinho, há duas maneiras fundamentais de ser encarado: ou é aquilo com que acompanhamos a nossa comida ou, pelo contrário é aquilo que é acompanhado pela nossa comida.
Eu pertenço à primeira tranche, acho que nunca fiz um prato para acompanhar um vinho (os da outra tranche dizem "harmonizar"), embora alinhe às vezes por uma outra via que é a de beber vinho à conversa que, aqui para nós, é como eu mais gosto dele.

Existe ainda uma terceira vertente, a do Vinho Cor-de-Rosa, que Tiago Teles examina de forma magistral aqui e que, sendo a minha exacta opinião mas não conseguindo nem por sombras chegar-lhe aos calcanhares em brilho e assertividade, recomendo uma leitura atenta.

Sendo que leitor é leitor e pronto, é leitor, há duas maneiras fundamentais de sê-lo: ou é dos que, sem tempo, treslê pela rama, mais intuindo que lendo ou, pelo contrário, dos que se detêm no espírito e na letra, tentando chegar à pessoa oculta por detrás daquelas letras.
Não se pense que eu alimento qualquer animosidade ou desdém por qualquer destes leitores: eu próprio, consoante os ditames do tempo, esse tirano, vou sendo um e outro.
Se agora aqui falo disso é porque o texto de Tiago Teles que acima referi é o pano de fundo para o que a seguir vos direi deste maduro, Quinta dos Loridos Alvarinho 2007.

A Quinta dos Loridos é uma propriedade de cerca de quatro dezenas de hectares paradisíacos a que se chega saindo do Bombarral em direcção a Óbidos e virando à direita na primeira rotunda. Após uma longa e ilustre história foi há poucos anos adquirida pelos Vinhos Bacalhôa de Joe Berardo devido às particularidades únicas daquele terroir para a produção de espumantes brancos de excelência que começam agora a dar os primeiros frutos.
. Por entre as copas e exércitos, pode ver-se o verde das vinhas.
Ali, no meio de exércitos de terracota chineses e gigantescos budas que Berardo decidiu ali implantar num impulso de indignação quando os taliban afegãos dinamitaram os budas de Bamyam, crescem as vinhas de Alvarinho, a mais prestigiada casta branca portuguesa, tradicional do melhor vinho verde, mas que aqui, vinificada como maduro, é a prova provada que o terroir, esse conceito intraduzível que abrange o conjunto ambiental de uma vinha, desde o solo ao clima, é um factor fundamental, talvez mesmo mais que a casta, para definir a personalidade de um vinho.

E que personalidade tem este Alvarinho, Quinta dos Loridos 2007!

De cor citrina, fresco, exuberante e com a acidez “certa” a lembrar o alvarinho da sua origem, firme na boca e um final enorme, com aroma frutado e madeira muito ténue, que aqui não se caiu na pecha nacional de “tratar” qualquer zurrapa em carvalho francês, a fingir de grande vinho.
O Quinta dos Loridos Alvarinho 2007 fermentou apenas 40% do mosto na madeira, de modo a temperar sem abusar, qualificar sem mentir!
.
Se for visitar este parque temático budista e improvável no meio de vinhas do Oeste (entrada livre), não esqueça uma paragem na loja de vinhos, à saída, onde tem à disposição todo o universo dos Vinhos da Bacalhôa, até as raridades como alguns dos melhores Palácio da Bacalhôa, e, claro, o Alvarinho Quinta dos Loridos 2007.

1 comentário:

Moira - Tertúlia de Sabores disse...

Não me lembro de ter provado esse vinho, tenho que o pôr numa próxima lista de compras embora a minha despensa esteja "atulhada" de deliciosos néctares, muitas vezes com a desculpa que são demasiado bons para esta ou para aquela comida. Já fiz por várias vezes uma determinada receita para acompanhar um vinho especial, quase sempre a pedido do meu pai, que é o "especialista" em vinhos e que às vezes fica muito ofendido comigo quando abre um "bom" vinho e eu digo que não gosto, e pronto! :))
Quanto à quinta, parece ser interessante e a merecer uma visita, quanto mais não seja para comprar mais uns vinhos.
Moira