sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Capilé

....................... É a última das bebidas românticas, não alcoólica.
Vem dos tempos em que beber algo doce era normal e não era vergonha nenhuma para o grande Eça de Queiroz, declarar o capilé como sua bebida preferida para acompanhar o Bife à Marrare. Nessa altura, em que a Coca-cola não tinha aindo estendido os seus tentáculos globais a impor-se como única bebida doce "aceitável", era vulgar beberem-se à refeição e fora dela, Mazagrins, Grenadines, Groselhas, Salsaparrilhas e Capilés.
Curiosamente, do ponto de vista técnico, um capilé é muito parecido com uma coca-cola: água, açúcar e caramelo. Diferem depois na soda e nos aromas, a americana com os extratos de cola e o capilé com a avenca e limão.
Pessoalmente, como não gosto muito de mainstreams, faço todos os anos o meu capilé, já que não existe nenhuma alternativa credível no mercado. Assim:
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Ingredientes (para 3 litros):
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3kg de açúcar amarelo
1,5l de água de Luso
50g de avenca seca
Casca de 6 limões
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Preparação:
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Esta é a minha avenca.
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Durante o ano, sempre que retiro as folhas que vão ficando amarelecidas pela idade, guardo-as e vou juntando.
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Faça então uma infusão destas folhas secas em água do Luso ou outra pouco mineralizada, filtre e reserve. Se não conseguir arranjar avenca (que não existe à venda) poderá encarar a opção de usar chá preto ou verde em infusão forte, lúcia-lima ou chá príncipe.
Ponha o açúcar no tabuleiro de forno e seque-o.
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Isto faz-se mantendo o forno abaixo dos 100ºC, mexendo sempre o açúcar até que perca a consistência húmida característica e se torne como areia fina muito seca e escorra como tal entre os dedos.
A partir do momento em que está seco, aumente a temperatura para os 170ºC e comece então o processo de torra do açúcar: à medida que vai ficando castanho à superfície,
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mexa-o para expor de novo o açúcar claro que está por baixo, tendo o cuidado de nunca deixar queimar a syuperfície do açúcar, o que daria um gosto queimado ao capilé.
Ao fim de algum tempo (cerca de uma hora), todo o açúcar já mudou de cor para castanho
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e vai então juntá-lo à infusão que deve estar a ferver, ao lume.
Vá deitando pequenas quantidades de cada vez porque o açúcar está muito quente e pode haver um contacto quase explosivo quando entra na água quente.
Junte agora as cascas de limão
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e deixe ferver por uns minutos ou até atingir um ponto em que as cascas ficam com um aspeto coriáceo e cristalizado.
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Engarrafe muito quente e rolhe logo.
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Faz-se um capilé como um vulgar xarope: um pouco no fundo, uma rodela de limão, gelo e água fresca até encher.

4 comentários:

Unknown disse...

Brutal. Existe alguma receita de capilé com gin?Visto estar agora na moda... Abraço.

xientifica disse...

Obrigada por partilhar esta receita.Estava a pesquisar uma bebida que costumava comprar no verão na feira em Ferreira do Zêzere com a minha avó e que era tão refrescante mas já nem me lembrava do nome quando me cruzei com o seu Capilé...era de facto este o nome daquela bebida..mais uma vez bem-haja.
Ana Rodrigues

Unknown disse...

Muito bom. Gostaria de saber se existem variações de receitas de capiles visto que degustei em uma ocasião com sabor acentuado de romãs.
Jairo Minosso

mary disse...

Maravilhoso! Assim vou aproveitar bem toda a avenca que tenho no jardim. Obrigada